SUBMUNDO
Os anjos desse mundo
São os meninos largados ventre afora
A b a n d o n a d o s
Nas calçadas frias e sujas
Onde se desconstrói a vida
Os deuses e os visionários desse mundo
São os bèbados e os loucos
Com suas frases desconexas
Sua linguagem truncada
Seus efeitos especiais
Trajetos trôpegos
Piruêtas e
d
e
s
l
i
z
e
s
os donos desse mundo
desse chão em desconstrução
são as prostitutas, os travestís
fugindo da contaminação
(uma camisinha, pelo amor de deus),
somos nós respirando a fumaça negra dos ônibus
a fumaça tóxica das fábricas,
são os que bebem a água poluída
nos bares,
são os que comem o que sobra
na lixeira dos restaurantes e pensões,
são os que engolem as ofensas e humilhações
junto com a cachaça das encruzilhadas
O dono do mundo
É o viajante dos trens lotados
Japerí , Belford Roxo, Gramacho, Santa Cruz
Que, pendurados qual gado de corte,
Entram na faca diariamente
Roubados no jogo,
Nas conduções
E explorados pelo patrão
O novo testamento diz
(que alento...):
desses, é o reino do céu
(com certeza, para esses,
o inferno é aqui)
Guadalupe, 1980
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