350 Milhões e algumas considerações sobre a proposta Adidas
qua, 30/05/12
por Emerson Gonçalves |
A revelação feita pelo Renato Mauricio Prado em sua coluna no jornal O Globo é de mexer com a cabeça de qualquer um: a Adidas pagaria 350 milhões de reais pelo patrocínio do Clube de Regatas do Flamengo por 10 anos, de 2015 a 2024. Acompanhados, ainda, por alguns agrados, todos eles extremamente interessantes (leia aqui a coluna). Já recebi vários e-mails, além de comentários no OCE, perguntando o que penso a respeito, se é bom ou mau negócio para o Flamengo. Vamos lá, então.
Hoje, o clube recebe 18 milhões anuais da Olympikus, mais participação nas vendas a partir de patamar acertado em contrato, como é praxe nessas negociações. Além disso, a fornecedora pagaria parte dos salários de pelo menos dois atletas rubronegros, além de investir no museu do clube. Tirando a parte do pagamento de salários, não resta dúvida, num primeiro olhar, que a proposta Adidas é não só maior como também mais interessante.
O Brasil vive um momento esportivo, com a proximidade da Copa do Mundo e em seguida dos Jogo Olímpicos do Rio de Janeiro. Mesmo com toda a euforia que campeia por nossos clubes, esperava-se um pouco mais desse “momento esportivo”. Bem ou mal, entretanto, 2015 estará no auge dessa fase e, esperamos todos, os anos vindouros serão melhores do que nunca, não pela Copa e pelas Olimpíadas, mas pelo próprio desenvolvimento do país, do crescimento de sua economia e da consolidação (e também crescimento) de sua nova classe média, hoje já estimada em respeitáveis 100 milhões de pessoas.
100 milhões de consumidores.
Número de fazer inveja a qualquer país rico e desenvolvido. Claro que nem tudo é um mar de rosas e que esse número é tão bonito quanto enganador, pois nossos problemas básicos e nossa capacidade de consumo são ainda muito grandes e muito pequena, respectivamente, mas, ainda assim, 100 milhões são 100 milhões, ora pilulas!
É possível, muito possível, que em 2015 esse número já seja de 120 milhões de pessoas ou, pelo menos, 110 milhões. Bota atração nisso…
A proposta Adidas, certamente, leva em conta essa projeção, de forma muito mais elaborada. Ninguém se dispõe a comprometer 35 milhões de reais por dez anos seguidos sem um sólido e muito bem elaborado planejamento, o que só é possível com excelentes informações e projeções de mercado.
O Brasil é hoje a sexta ou sétima maior economia do mundo. Digo sexta ou sétima ao invés de patrioticamente berrar sexta em função de nossa realidade cambial. O real não é o dólar. E se o euro espirra, nós pegamos uma pneumonia, apesar das otimistas (felizmente não mais megalomaníacas) declarações oficiais. Sexta ou sétima, entretanto, não importa muito e o Brasil é, sim, um mercado muito interessante para qualquer empresa global. Aliás, é mais do que interessante, é obrigatório.
O mercado mundial de material esportivo tem vários gigantes, mas dois deles são mais gigantes que os outros: Nike e Adidas. A Nike por aqui “vai bem, obrigado”, ancorada na seleção nacional (lembram de 2014 e 2016?) e num grupo de clubes muito interessante: o Corinthians, que tem a segunda maior torcida em números absolutos e o maior potencial de consumo, e que, no terreno esportivo, promete estar presente no topo de todas as competições que disputar (por favor, no topo não significa ser campeão, ok?); o Santos, que é, sem dúvida, a estrela desse momento e provavelmente continuará a sê-lo nos próximos anos; e o Internacional, que mesmo tendo um forte componente regional é um clube que cresce de forma igualmente sólida no campo esportivo, tornando-se marca atraente. E além desses três, a Nike também patrocina o Bahia e o Coritiba, cobrindo, assim, grande parte dos principais mercados brasileiros. Isso faz com que a Adidas precise direcionar recursos para conquistar uma posição mais consistente, se possível parelha com a da Nike.
Aqui entra o Flamengo para vir a ser o “cabeça-de-chave” de um elenco de clubes e manter uma forte posição de mercado, o que explica a oferta financeira e o pacote agregado de benefícios. No Brasil a Adidas patrocina o Palmeiras e o Fluminense. Sua marca Reebok, que no Brasil é produzida e comercializada pela Vulcabrás, dona da marca Olympikus, está deixando o futebol. Já perdeu o Internacional para a Nike e no Cruzeiro a Vulcabrás trocou-a pela marca Olympikus, restando, portanto, somente o São Paulo com a marca Reebok. Além do Flamengo, portanto, o time Adidas poderia ser encorpado com São Paulo, Vasco, Grêmio e Atlético Mineiro, ao menos. Tudo isso, porém, são apenas divagações desse escriba, com base em um ou outro arremedo de informação.
Voltando ao Flamengo: pode até ser que 35 milhões de reais por ano venham a ser um valor baixo já em 2016, por exemplo,porém, mesmo assim, a proposta continua atraente (com certeza, até pelo tempo a correr desde já e depois durante a o cumprimento do contrato, há cláusulas de correção). Outro ponto interessante e que faz a cabeça de todo dirigente brasileiro:antecipação de valores (ai, ai, ai… e lá se vai parte do futuro, mas, faz parte, não adianta querer tapar o Sol com a peneira). Um contrato desse porte é interessante, também, para melhorar números futuros do balanço e permitir ao clube um novo fôlego em renegociações de dívidas.
Ah, sim, não esqueci do mercado internacional e coisa e tal, mas ultimamente não ando perdendo tempo e gastando neurônios com isso. Nossos clubes são desconhecidos da massa torcedora fora do Brasil e Latino América e assim continuarão, até que mude o calendário, mudem as cabeças e nossos grandes clubes tenham chances concretas e permanentes de participar do mercado global.
Partindo do princípio de que a proposta é oficial, temos um fato novo muito interessante no mercado brasileiro, que provocará movimentação nos grandes clubes, independentemente do resultado final, seja ele a manutenção da Olympikus, seja a entrada futura da Adidas. Nesse último caso, como seriam os dois anos e meio finais do atual contrato?
Não dá para não lembrar o final do relacionamento Flamengo/Nike.
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